56 anos da “Tragédia do Rio da Prata” na BR-040, um herói e muitas lágrimas

Há histórias que se estigmatizam pelo inglório desejo de que, talvez um dia, possamos ouvi-las sem a angústia que seus finais nos trazem, como se fora possível revertermos o passado.

Quando o lavrador Luiz José da Silveira “Luiz Goiano” acordou na madrugada do dia 13 de dezembro de 1962, assustado por um estrondo que se sobressaiu ao som das chuvas torrenciais que caíam naqueles dias, e se postou em frente ao seu rancho, jamais imaginara que seria ao mesmo tempo testemunha e herói de uma tragédia sem par em nossa história.

A mais de 12 metros acima de seu nível normal, o Rio da Prata derrubara sua ponte. A baixa visibilidade noturna, aliada às condições climáticas, foram fatais a muitas vidas, e Luiz Goiano assistia a uma das maiores tragédias rodoviárias do País. Aos poucos um ônibus…dois caminhões…uma Rural….Vemaguet…Ford Coupé, e contam “outros veículos”, foram submergindo incontinentes no rio, tragados pela força de suas águas.

Luiz Goiano, no breu da noite, correu em direção à BR 040, sob forte chuva armou uma barricada com paus e galhos de árvores, conseguiu ainda acender uma pequena tocha para avisar aos motoristas do iminente perigo. Esta atitude heroica salvou a muitos e talvez tenha alertado o motorista da Viação Araguarina (foto abaixo) que, no sentido Paracatu-João Pinheiro, vinha do outro lado do rio, mas parou no limite da queda. Os passageiros saltaram pela parte traseira, enquanto o motorista, em estado de choque, foi retirado por socorristas. A mesma sorte não tiveram os 44 passageiros do ônibus DF 5-81-10, que saíra de Brasília com destino ao Rio de Janeiro e minutos antes chegara no Prata, destes somente 6 se salvaram.

Socorros começaram a vir de todas as partes, cidadãos comuns, servidores do antigo DNER, também ambulâncias, corpo de bombeiros, helicóptero, saíram de Brasília e Belo Horizonte, trazendo médicos, enfermeiros e medicamentos para auxiliarem. No entanto o quadro trágico já estava definido, dezenas de mortos, muitos não localizados devido à forte correnteza. Algumas poucas pessoas, lesionadas e seminuas, foram resgatadas com vida agarradas em copas de árvores.

João Pinheiro madrugou naquela data de Santa Luzia. Ex-servidores do DNER: Nestor Garcia, Gabriel e Epifânio, contam que foram despertados por colegas com a notícia. Da incredulidade inicial à triste realidade, momentos de transe à medida que se dirigiam ao local do acidente. Já na região onde hoje é a Rural Minas, puderam ter a noção dos efeitos daquela chuva, uma lagoa perene da campina São Jerônimo tornara-se um “mar”, com suas águas beirando o acostamento da BR. Chegando às margens do Prata fitaram atônitos os rastros do que ocorrera naquela noite, lembranças que ainda marcam com nostalgia seus olhares e palavras que os remetem àquela data.

Desse Dia muitos casos se contam, porém nada que se compare ao que viveu Luiz Goiano, um herói cuja coragem poupou lágrimas a muitas famílias . A ele dedicamos “in memoriam” uma bela obra do cancioneiro pinheirense, escrita por João Correa Neto, cantada por Paulinho Coelho e Fernando Coelho. Certamente os sentimentos de Luiz Goiano vivem nesta canção:

“Quero pedir uma graça
pra Jesus me ajudar
Que me dê força e coragem
pra esta moda eu cantar

Fortatecer o meu peito
pra minha voz não faltar
Não deixar neste momento
quem me escuta chorar

Todo lugar desse mundo
tem presença da beleza
Desde as casas mais pobres
até as casas burguesas

As flores têm seus encantos,
ornados por natureza,
Somente no Rio da Prata
que a gente vê só tristeza

Quem passa naquele rio
com espanto logo sente
As noites são mais escuras
de dia o sol é mais quente

As águas daquele rio
já correm mais lentamente
Cantam tristes os passarinhos
porque não falam o que sentem

Dia de Santa Luzia
a ponte foi destruída
Hoje só restam os pedaços
da velha ponte caída

Jamais em minhas lembranças
ela será esquecida
Porque muitos viajantes
nela perderam a vida

Oh minha Santa Luzia!
santa dos olhos azuis
Se não for muito difícil, pedes por mim a Jesus
Ilumine os passageiros que morreram sem ter luz
e lá no Rio da Prata, manda fincar uma cruz.”

(para ouvir clique no link postado nos comentários)

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Fonte: JP Consciente  / Vídeo: Newton Ferreira do Prado

 

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